Retratamento Ortodôntico

No dia-a-dia do consultório ficamos assustados com o grande número de pacientes que nos procuram para retratar, refazer procedimentos odontológicos realizados anteriormente por outros profissionais.

Canais mal instrumentados e mal obturados ou perfurados; próteses grosseiras, mal adaptadas, sem função e sem estética adequadas; implantes mal posicionados, enfim, problemas em todas as especialidades. Não estou aqui para dizer que somos perfeitos, que somos melhores que os outros dentistas e que nunca nos equivocamos.

Falo de erros básicos, da pobreza de diagnóstico, da falta de planejamento, de atenção e, principalmente, de respeito ao paciente, ao ser humano.
Vou me restringir à minha especialidade, a ortodontia. Quando descobrimos que dentes poderiam ser movimentados através do osso de suporte, inúmeros estudos foram e são realizados até hoje para melhor entendermos a biologia deste complexo procedimento. Mas há pessoas, profissionais e leigos, que acham tudo isso muito simples, fácil, não é mesmo? Afinal, não estão vendo a raiz, a parte do dente que realmente sofre a força e realiza o movimento.

A responsabilidade é enorme. Um tratamento ortodôntico mal realizado, muitas vezes, não tem volta. A raiz dentária, uma vez reabsorvida, não regenera mais. É comum ver dentes, sem histórico de trauma, terem suas raízes reabsorvidas e a sustentação comprometida depois de um tratamento ortodôntico feito por profissional mal capacitado. Há tantos casos…

Abro parenteses aqui para falar também dos pacientes irresponsáveis, que faltam as consultas, que quebram o aparelho, que não têm boa higienização, que não seguem o que é orientado pelo profissional. Tudo isso compromete o tratamento, mas é assunto para um próximo texto. Assim, vamos excluir este tipo de paciente e manter o foco nos profissionais.

Quando atendo, pela primeira vez, um paciente candidato ao retratamento ortodôntico, deixo tudo muito claro. É muito triste falar dos riscos e limites de um retratamento, principalmente quando o paciente acha que está tudo bem, que simplesmente outro ortodontista irá resolver o seu caso, sem maiores problemas. Muitos não querem ser submetidos às novas radiografias e à toda aquela documentação, não acreditam em um novo e provavelmente mais longo tempo de tratamento. Há aqueles que, com razão, se revoltam. Se falta seriedade em alguns profissionais, porque não faltaria no paciente que é leigo, que não enxerga a complexidade de um tratamento ortodôntico? A maioria das pessoas leigas acredita que usar aparelho é bonitinho (ou nem tanto), que é só escolher o lugar que cobra mais barato e sair de lá com o aparelho montado nos dentes, e que daí para frente é só ir “apertar” e tudo se resolverá bem.

Mas como escolher um bom profissional de saúde, independente da área? Como minimizar os riscos? Infelizmente o “não saber fazer” não é freio para muitos que se dizem especialistas. O CRO (conselho regional de odontologia) faz a sua parte através de denúncias de outros profissionais e de pacientes, mas até lá muitos já sofreram danos.

O leigo, o paciente que procura tratamento, não precisa entender os procedimentos. Mas deve enxergar que ortodontia é saúde e é coisa séria e que sua escolha deve minimizar riscos. É importante não achar que todos os profissionais são iguais e procurar informações sobre eles com o CRO (www.cro-rj.org.br) e até mesmo com outros profissionais e pacientes.

São necessários trinta meses de pós-graduação em ortodontia para formar um bom profissional. Mas não basta. O estudo deve ser constante durante uma carreira profissional séria. Ou seja, para se qualificar é necessário muita dedicação e investimento financeiro. É bom lembrar disso quando procuraramos um profissional qualificado, pois dificilmente seus honorários serão os dos nossos sonhos. E nem sua consulta inicial será uma simples “olhadinha”, como muitas vezes, nessa vida corrida, buscamos.

Talvez seja mais fácil e até inconsciente valorizar o supérfluo: a TV com a melhor imagem, o tênis de marca, o celular mais moderno. Afinal, são bens palpáveis, diferente da saúde.

Com tudo isso nós, pacientes, devemos escolher com consciência quem cuidará da nossa saúde para não comprometermos nossa qualidade de vida. E nós, profissionais, devemos ser honestos e ter respeito pela saúde das pessoas, encaminhando o tratamento para outro profissional quando o melhor a ser feito para o paciente ultrapassa nossos limites.